sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O 3º é sempre o que dá sorte! [Dri]

Quando Lucas, meu namorado, me chamou para ir na roça do avô dele, resisti a princípio. Primeiro por que estávamos brigados e segundo por que tinha recebido uma proposta quase irrecusável de ir ver o Psirico no Wet. Fui. Encaramos algumas horas de viagem e mais outras horas de engarrafamento por causa de um acidente. Fiquei com fama de pé frio, mas esse detalhe não é preciso ficar comentando. Quando chegamos, S. Natalício (avô) e sua esposa, D. Carmelita nos receberam muito bem, cheios de sorrisos e de “fiquem à vontade”.

No sábado de noite, S. Natalício ficou muito quieto, reflexo de uma depressão da qual estava saindo. No domingo de manhã começamos a conversar. Uma conversa tímida das duas partes mas que foi ficando à vontade aos poucos, entre risos e a descrição da “maior fazenda da Bahia”. Fui me encantando com aquele senhor bem arrumado, vistoso, com os cabelos brancos e um bigode bem fininho branco também. Pegamos o carro e fomos conhecer a fazenda de S. Natalício. Passávamos por várias fazendas e ele dizia “era tudo meu, mas pra quê isso tudo pra mim?dei tudo!” e ria. Quando chegamos lá eu estava sem graça, Lucas pegou minha mão e foi me mostrando toda a roça. S. Natalício logo em seguida pegou uma penca de chaves e foi me mostrando cada cômodo da casa. Me mostrou o avião que não passava de uma bicicleta em excelente estado, me mostrou sua sala de ferramentas e um baú cheio de cachaça. Lucas simulou uma cena de ciúmes e disse nunca ter visto aquele baú. Conversamos, S. Natal me ofereceu banana maçã enquanto enchia o saco da esposa perguntando “já pegou o milho da menina?não esquece do milho da menina!”, até que se estressou e foi pegar ele mesmo. Ele me falava da casa, dizia para eu contar da casa para minha mãe, me ofereceu a cama dele, que era um pedaço de madeira com um papelão por cima, para que eu sentasse e assim fui me sentindo em casa, fui me aproximando da minha casa na Itaboraí onde cresci com meu avô.

Voltamos, almoçamos e D. Carmelita disse para Lucas: “Gostei dela, ela não tem essas fidalguias. É boa de garfo!”. Comi o maravilhoso pudim de aipim feito por ela e saí de lá com pelo 10 quilos a mais! Quando estávamos indo embora, Eu abracei D. Carmelita, ela disse que tinha gostado muito de mim e eu disse que sentia o mesmo. Abracei S. Natalício, ele deu um abraço forte e quando fui sair, ele segurou minha cintura bem próximo dele e disse “não traga sua mãe não!vai ser muito cansativo pra você!coloca ela no carro!”, dei uma gargalhada, ele sorriu e se estabeleceu ali uma corrente, não sei ao certo de quê, mas me senti tão ligada a ele como se fosse realmente sua neta.

Logo em seguida conheci D. Maria. Se pudesse descrevê-la, diria: ela tem o sorriso mais bonito que eu já vi na vida! Abraçou Lucas, e olhava para ele com os olhos brilhando. Ela nos abençoou e disse “não vai enrolar né?! É pra dar um jeito na vida agora né?!”. Ela sentou com a gente e contava os “causos” rindo com uma gargalhada gostosa demais. Eu não entendia nada mas ria daquela gargalhada que saía por todos os poros, uma gargalhada que vinha da alma.
Quando chegamos em Salvador, minha sogra disse “todo mundo gostou de você!pensei que o papai não ia te largar” e Lucas completou “desde que meu avô entrou em depressão, nunca vi ele sorrindo daquele jeito”. A vida em certos momentos é tão misteriosa e maravilhosa ao mesmo tempo. Eu, que estava cabisbaixa e tive trilhares de pessoas me dando força, não consegui me sentir tão bem como me senti com gente que nunca tinha visto na vida. D. Maria com aquele jeito me fez ver o quanto se tem valor mesmo depois do passar dos anos, o quanto podemos ser admirados e respeitados sem ter um corpo perfeito e um rosto sem rugas. S. Natalício, ah, ele me levou até minha infância quando meu avô fazia tudo para mim. Lembrei do meu velho e do seu cuidado comigo. Fui na roça e ganhei um avô de quebra, mas não um avô qualquer, ganhei S. Natalício que tem a maior fazenda da Bahia, um avião e uma cama elegantérrima de madeira maciça. O que ele ganhou? Uma neta babona que não vê a hora de voltar. Uma neta que quando dormiu, agradeceu a Deus por ter sido tão bom, que mesmo depois de ter lhe tirado os dois avôs, lhe deu um 3º tão maravilhoso quanto os outros.

Nenhum comentário: